quarta-feira, 10 de fevereiro de 2016

“Japonês Ficha Suja da Federal” atravessou o samba entre os delegados.



Marcelo Auler, com as fontes que acumulou em 40 anos de reportagem, colheu a irritação dos
delegados da Polícia federal com a transformação do agente Newton Ishii em símbolo da Polícia 
Federal, feita até numa página de facebook que apresenta como site a campanha do Ministério 
Público coletando assinaturas para mudar a legislação, ação que é patrocinada oficialmente pela 
instituição.
“Na verdade, o agente deveria era ter ido pra rua (…) Ter como rosto da PF alguém que foi demitido 
por praticar crime é uma tragédia”, diz um delegado de Brasília sobre a entronização do “Japonês” 
como símbolo da PF.
Outros desabafos se multiplicam: “vexatório, tragédia, patético”,
Corre solta a história de que Ishii alimenta pretensões eleitorais – que ele nega – e Auler diz que, 
tecnicamente, o empecilho é que Ishii seria “ficha suja”, já que está condenado, em segunda 
instância, pelo Tribunal Regional Federal, por corrupção, formação de quadrilha e facilitação de 
contrabando e descaminho. Há recurso, ainda não julgado no STJ.
Pelo sim, pelo não, o tucano paulista Sérgio Kobayashi, ex-secretário de Comunicação de José Serra, 
já espalha pela internet fotos com o “Japonês da Federal”, dizendo que vai “dobrar a meta”.
Está aí o que virou a “republicana” Polícia Federal.

Leia a história no blog do Auler.

Alheio à folia momesca, me valho do noticiário de alguns jornais e da internet para concluir que o
Japonês da Federal não fez muito sucesso na folia de rua. Pelo menos no Rio de Janeiro. Por aqui,
máscaras reproduzindo seu rosto parecem não ter agradado. Poucas foram vistas. Menos mal.
O japonês da federal, na verdade, só ganhou notoriedade por conta de o Departamento de Polícia
Federal (DPF), através da Superintendência Regional do Paraná (SR/DPF/PR) ou da própria direção
geral em Brasília, ter permitido sua excessiva aparição nas operações da Lava Jato. Foi uma
estratégia – e aí vem a dúvida de qual o objetivo – ou um simples e repetido erro?
O fato de um agente condenado por corrupção, cuja expulsão do DPF foi revertida por uma questão
técnica e não pela prova de sua inocência, tornar-se o rosto dos federais nas operações gerou
desconforto interno entre seus colegas.
De tanto aparecer nas fotos das 22 fases da Operação Lava Jato escoltando presos, Newton Hidenori
Ishii, 60 anos, virou o retrato do Departamento de Polícia Federal (DPF) na Operação Lava Jato para
a população. Mais curioso ainda é a propaganda que aparece no Facebook relacionando o Ministério
Público Federal e o juiz Sérgio Moro (acima) com a campanha do abaixo-assinado para propor ao
Congresso um projeto de iniciativa popular com mudanças nas leis de combate à corrupção. Ali,
junto ao juiz Moro e ao procurador Deltan Dallagnol – apontados como os dois principais paladinos
da moralidade e honestidade no país – quem aparece ao lado não é nenhum delegado da Força
Tarefa, mas o agente Ishii, que apenas escolta presos. Pior ainda, um condenado por corrupção. Ao
que parece, falta coerência.
Essa excessiva exposição vem irritando seus colegas do DPF, inclusive e notoriamente, delegados.
Entre estes, os que participam diretamente da Força Tarefa (FT) no Paraná. Uma delas*, no
Facebook, comentou sobre o fato de serem representados por alguém que não compõe a FT:

“Por isso eu desisto…. Chega de virar noite (…) Ao menos se fosse um dos colegas que 
trabalham de fato”.
As críticas nas páginas dos delegados nas redes sociais, repetiram-se em diversos momentos. Eles
consideram não ser o agente a pessoa adequada para representá-los junto à população. Criticaram, de
forma um tanto quanto preconceituosa, até o fato dele provavelmente não ser articulado como
deveria: “talvez não formule um frase com correção, é surreal” (sic). Acham que faltou à instituição
escalar alguém gabaritado para representá-la:

“A ausência de um rosto nosso (seja qual razão for), fez a imprensa dar à PF o rosto de um 
“escoltador”. É patético…”,
resumiu um delegado do norte do país, um dos mais indignados com a situação e que mais
comentários postou. Outro colega seu, lotado em Brasília, foi mais direto ao relembrar o passado do
Ishii que Luis Fernando Veríssimo, em artigo irônico, intitulou de “Japonês Bonzinho”;

“Na verdade, o agente deveria era ter ido pra rua (…) Ter como rosto da PF alguém que foi 
demitido por praticar crime é uma tragédia”.
__________________________________________

Nenhum comentário: